O
cômodo está escuro. Através da janela, nota-se que a noite cai. O céu, que,
outrora mostrara o vasto poder do grande astro de nosso sistema, agora, rende-se
à escuridão. Talvez a lua não venha amenizá-la. Há nuvens espessas lá no alto. Os
olhos, aos poucos, vão se acostumando à penumbra. Não há a necessidade de
contrariar aquele estado, não há razão para ter medo do escuro quando tudo o
que se tem é uma garrafa de vinho e uma cabeça cheia de pensamentos embaralhados.
A solução para eles não será encontrada sob a penumbra, decerto, mas também não
será encontrada sob a iluminação artificial. Talvez pela necessidade de escondê-los, de não encará-los. As sombras amenizam os reflexos de tais pensamentos.
A
solidão, tantas vezes repulsiva e repudiada, é almejada agora. Ninguém para
apontar os erros, ninguém para dizer que já havia avisado sobre as consequências
daqueles atos impensáveis, os quais alguém jurou que resultariam em coisas agradáveis
desta vez, diferente das milhões de vezes anteriores. Quantas vezes esses atos
foram e serão repetidos? Dane-se.
A
música, nos ouvidos, transporta para aqueles momentos que resultaram em dores,
mas que valeram cada segundo gasto com eles. Além disso, ela faz com que alguém
desista de dar início a uma conversa qualquer, já que nenhum barulho lá de fora
é audível agora.
Eu
me rendo. Encontro-me sem forças para lutar contra qualquer sentimento de
fraqueza, de cansaço. Não quero mais ter de lutar. Quero desistir, continuar
imóvel e simplesmente não ter nada por que esperar. Talvez seja mais fácil,
pelo menos, agora. Cansei de me mostrar forte, quero deixar minhas necessidades
à mostra, ao invés de reprimi-las.
Meus
pés acompanham cada batida daquela música, a qual já até perdi a conta de quantas vezes fora
repetida seguidamente... Fecho os olhos, e tais momentos não mais parecem ter
se passado há meses ou, quem sabe, há anos, eles estão vívidos, como se
estivessem todos acontecendo neste exato momento, em minha mente.
Após
alguns copos de vinho, cheguei ao estado em que eu queria. Então deixo o momento
fluir...
Então
ele entra no cômodo e eu finjo que não vi. Ele senta-se ao meu lado e me beija.
E eu não faço nenhum esforço para resistir. Não quero. Não mais. Logo ele me
tem, logo consegue o quer, logo me domina... e, logo, suas mãos sedentas me
exploram, procurando saciar-se...
O
álcool faz-me dizer e fazer tudo o que a sobriedade não permite... Faz-me fantasiar
a realidade e tornar fatos reais em fantasia... Já não conseguia enxergar a
linha tênue que separa fato e ficção... O que sei é que aquele momento não era
mais exclusivamente meu.
Nós
dois sob a penumbra que enegrecia cada vez mais aquele quarto... Nós dois e uma
garrafa de vinho, que, rapidamente, se esvaziava... Nós dois e aquela música que
nos transportava para aqueles momentos que nos trouxeram dores, mas que valeram
a pena... Nós dois e nossos pensamentos embaralhados, os quais... onde estavam
mesmo?
Gritos
(Gritos?)... Vozes alteradas (VozES? Alteradas?)... Carícias (Carícias?)...
Beijos (Beijos?)... Nudez (Nudez?)...
- Foi
real? Ou foi um reflexo dos meus desejos reprimidos que foram trazidos à tona
pelo álcool?
Foram as questões que tomaram meus pensamentos, ao abrir os
olhos e notar que continuava sozinha, sob a escuridão de meu quarto, observando
as gotas de chuva escorrendo pela janela...
- Escrito ao som de Liquid View (Trail of Tears).
Muito Bom! Tenho ideias para escrever algo parecido, mas ainda não as organizei. Mas, enfim, muito mesmo! =>
ResponderExcluirMuito bom Day!
ResponderExcluirObrigada, Vanessa!
ResponderExcluir^^
Obrigada, Arthuro! ^^
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